sexta-feira, julho 07, 2006
Manson
Bar cópia texana. Shirley Manson geme no canto do palco. Meia dúzia de cervejas. “Shut your mouth, try not to panic, just shut your mouth. If you can do it. Shut your mouth. Try not to panic. Just shut your mouth. If you can do it. Just shut your mouth” Aquilo era uma ameaça? O que essa porra de música fazia em sua cabeça? Lucas levanta a cerveja em direção à piranha. Ela geme mais uma vez em sua voz andrógina: “Just shut your mouth”. Lucas manda ela se fuder.
#Mais uma cerveja, Brian!
#Você não deveria estar trabalhando?
#Você não deveria estar trabalhando? Encha essa porra!
Brian é o barman mais antigo deste puteiro de entorpecentes. Há duas semanas Lucas vem evitando o lugar, mas Brian é o único na cidade que ouve opiniões dos fregueses.
# Brian. Chega mais.
#5 minutos, Lucas. Casa cheia hoje.
# Brian, eu fui abduzido.
Há tempos que Lucas não ouvia uma gargalhada como aquela. Shirley ainda gemia.
# Quem chamou essa porra de mulher, Brian?
# Ela é sexy.
# Pára de rir. Foi ontem. Eles mandaram eu ficar quieto, mas eles estão invadindo minha mente. A cidade está sendo vasculhada, eles querem, eles querem...Eles querem o Jongo.
O sorrisinho debochado de Brian desaparecera. Manson agora fazia movimentos com a boca como se chupasse o pau de Brian. Ele ergue uma sobrancelha.
#De quê que você está falando?
# Eu sei muito bem o que vocês fizeram. Eles me contaram. Eles estão te vigiando, cara. Eles vão te levar se o Jongo não desaparecer também.
#Jongo? Abdução? Estamos em uma cidade de merda, mermão.
#Eles querem... eles querem. Se você não der, eu vou ter que, eu vou ter que...
Brian retira a garrafa da mão de Lucas.
#Vá para casa.
# Eu vou ter que... eu vou ter que... Alguém vai ter que...
# Alguém vai ter que te levar para casa. Vamos.
# Você sabe! Você sabe!!! Eles me roubaram! Roubaram!
Lucas chuta o jukebox no canto do palco.
# Eu quero de volta meu... Eu quero de volta minha...
#Vamos, Lucas.
# Merda!
O bar pára. Todos os olhares em direção ao jukebox. Brian arrasta Lucas para fora. O jukebox repete. Lucas. Lucas. Lucas.
***************###****************** Interior do carro. Sapatinho de bebê pendurado no espelho do carro.
#Você disse que....
#Brian, devolva esse Jongo. Devolva tudo. Nós não somos ladrões.
Brian sorri.
#Você bebeu muito, hein? O que será que acontece se você enlouquecer? Me bater e sair correndo igual a um louco, em um carro velho como esse? Cairia do penhasco? Bateria com a cara numa árvore?
#Caralho... Você é ....
Brian freia.
#Eu sou o Jongo. Você é a marionete.
# Mas, se eu não... Porra!
#Eles mandaram você ficar quieto e você abre a merda da boca para a primeira pessoa que vê. Traidor. Humano ridículo que só quer salvar a própria pele.
# Mas você não pode...
#O que faz a raça de vocês tão importante? É o DNA? O amor que vocês pregam e que faz matarem milhões?
# Você vai me matar! Você vai me matar!!
# Histérico!
Lucas tenta abrir a porta e ela tranca sozinha.
#Eu não quero morrer! Eu sou quero de volta meu... minha... Você vai me matar.
Lucas se encolhe no carro e soluça intensamente.
#Você vai me matar agora, Brian?
# Claro que não.
Brian gargalha.
#Você está bêbado mesmo!
A porta se abre.
#Jongo! Abduzido! Arghhhhhh vai embora, seu verme decadente!
Lucas corre pela estrada escura. Brian dá meia-volta e segue pelo caminho contrário. Lucas entra dentro de casa, tranca a porta e se encolhe na cozinha, debaixo da mesa. Barulho de chaleira fervendo. Tremendo, ele levanta. Sentado na cadeira, com uma xícara, Brian sorri.
#Você está pronto, Jongo?
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