sexta-feira, abril 30, 2010

Efeito estufa

Foi a folha da manhã que havia me dito isso. Ela era uma criança verde. A pigmentação espalhou-se pelos membros logo cedinho e antes do horário comercial, já havia tomado o corpo todo. Esperava-se fotossíntese, mas o corpinho não aguentava o processo. Então ela ficava ali, quietinha. Inspirando e expirando o vento que assopravam para que ela continuasse viva. Queriam que ela continuasse viva. Ela não entendia muito bem, pois seus anos eram curtos. Mas disseram que ela precisava viver. Viver para que a folha da manhã me contasse isso. Para que você a expiasse pela janela e a visse dependurada entre os arbustos. Agora ela colhe jabuticabas, mas ninguém as toca por medo de intoxicação. Verde não é a cor da moda.



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quinta-feira, abril 29, 2010

Solado

Uma mulher fazendo xixi no fundo do ônibus + um homem.

HOMEM: # Xixi no ônibus derrete sapato, sabia?
MULHER: # Sério?
HOMEM: # Ácido.
MULHER: # Nossa, sempre achei biologia fascinante.



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terça-feira, abril 27, 2010

Brandir um cacto

De todas as coisas do mundo, Edgar Allan Poe guardaria um pirata em miniatura e o usaria para despertar a consciência da humanidade toda vez que limpava o cano da descarga do banheiro. Ele tinha as melhores ideias contando azulejos e imaginava que ela talvez pudesse também representar a época romântica com dragões e éter. É claro que Edgar era uma pessoa insatisfeita e toda vez que o pirata em miniatura soava gritos anglo-saxões, ele amassava quase devagarinho a cabeça da coisinha e ela não ouvia nada do outro lado do apartamento, só o tic tac e o tic tac. Achava que ele tinha uma galinha miniatura que marcava o tempo. Nunca desconfiaria dos mares por antes desbravados. Ele sorria feliz toda vez que a consciência era liberada. Ela confusa, brandia um cacto. Já o síndico sempre dizia que havia artistas entre nós.



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segunda-feira, abril 26, 2010

Balão num fio quebrado

Ele foi burilando, querendo. Burilando, querendo e pum! Havia chupado uma halls.



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sábado, abril 24, 2010

O tédio assim

Alguém faria aniversário 24 de abril. Teria bolo, guardanapo e copo plástico. Não me recordo quando nem quem, mas alguém assopraria velas por gostar de ver a chama tremeluzir.

Depois outro alguém faria uma piada sobre gordura hidrogenada e aí algumas pessoas evitariam comer o glacê. Num dia assim, 24 vezes os pés das pessoas encontrariam o chão ritmado, batucado por objetos eletrônicos.

Dizem que não deveríamos temer esses tempos. Falaram de portais, ondas na areia, rios vermelhos, danças de surfistas rockeiros. Eu ficava ali, pensando na porra do cadarço que teimava em ser puxado pelo gato do vizinho. Eu ficava ali, vendo o batuque passar e voltar como ventilador meio quebrado, meio oblíquo.

# Meu coração era assim, eu dizia. Amassado com catchup cinematográfico.

# E o que você fez? – só o gato perguntou.

# Eu comprei mostarda.



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sexta-feira, abril 23, 2010

Crença contraditória

Pato de Minas de Poe x Ornitorrinco de Guarulhos de Rulfo:

PATO: # Obrigado a você por trazer as palavras de volta.
ORNITORRINCO: # Você gostaria de abraçá-las?
PATO: # Só se elas forem literárias o suficiente.
ORNITORRINCO: # Como a Poiesis e a literariedade e a verossimilhança?
PATO: # Pode ser.
ORNITORRINCO: # Não. Sinto muito. Essas palavras são mundanas.



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quarta-feira, abril 14, 2010

O processo

Como ele não conseguia pensar em nada, rabiscou em um papel traços perpendiculares e depois comeu o desenho. Agora faz isso todas às sextas por hábito adquirido ao longo do processo.



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quinta-feira, abril 01, 2010

Pessoas não reais

Muitas vezes assim ela pensou em picotar o rabo do peixe por vingança. Esticaria e repetiria o movimento algumas milhares de vezes. Ouviria Radiohead até o rabo virar uma mistura de sal com alho industrializado. Depois desligaria o som e deitaria sob a relva até que o peixe voltasse ao aquário nadando livremente. Ele teria que pular, mas como sem rabo? Quinze passos depois, foi até à pedra amolar a faca.



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