sexta-feira, julho 30, 2010
Transporte
Era um cheiro de bala de côco com árvore exterminada por lagartas pretas e amarelas. E desse cheiro vinha não lembranças, mas sensações a fora. Sensações de vontades e desejos. Sensações de perder-se por minutos. Mas além de sensações, vinham as imagens que passavam pela janela do ônibus.
Tom sabia que as imagens passavam, mas não eram as visualizações que o intrigavam, mas a música que invadia seus ouvidos, gravada em alguma parte do mundo e replicada em seus ouvidos por aparelho eletrônico portátil. O ritmo. O silêncio entre as notas e a tristeza de ver as coisas passarem. Porque as coisas passavam e por mais que ele tentasse fixar as imagens na retina, elas não se perdiam, mas passavam, como todas as coisas que se toca e se vê.
Alguns diziam que o mal do século era a solidão. Outros que era a angústia. Outros a singularidade. Para Tom, o mal do século era não ter percepção. Perceber fazia o ar ficar preso. Uma reação química feita de energia. Era como um tapa em mosquito grudado na parede.
O mundo era simples. Como sempre foi. Como sempre seria.
Link esse texto //
2 Comentários
segunda-feira, julho 26, 2010
Fato real
.Ky. -shiikai- diz: *que raiva é essa, gente xD? *você é Capricórnio xD? 'de Sá' diz: *sou, pq? .C.Ky. -shiikai- diz: *por conta da frase xD 'de Sá' diz: *e tem alguma coisa a ver com Capricórnio? .C.Ky. -shiikai- diz: *TUDO *Capricornio é regido por Saturno *XD *que é Chronos *o tempo 'de Sá' diz: *e aí o quê? .Ky. -shiikai- diz: *e o tempo está bem esquisito ultimamente
Link esse texto //
0 Comentários
domingo, julho 25, 2010
Qualquer coisa
Havia um buraco na telha que pingava. Pingos de céu. Pingos de outrora. Pingos de agora. E havia um menininho que botava o cotovelo lá dentro só para se arrepiar.
Link esse texto //
0 Comentários
sábado, julho 24, 2010
Talvez não
As árvores eram fáceis de achar. Difícil era não falar nada.
# Que fiquemos calados, ele pediu. # Assim seja, outro concordou.
Ficaram como buraquinhos em lascas pretas e brancas em um piano a noite toda.
Link esse texto //
0 Comentários
quinta-feira, julho 22, 2010
A descoberta
Ela descobriu que para atirar na cabeça era só ouvir música em looping.
Link esse texto //
0 Comentários
quarta-feira, julho 21, 2010
THC
Duas amebas em ritmo acelerado.
A1: # E você não consegue mais escrever? A2: # É. A1: # Não escreva, lamba.
Link esse texto //
1 Comentários
domingo, julho 18, 2010
Sativa
Conversa de poetas desconhecidos:
P1: Será que nunca vou conseguir maconha fácil na vida?
P1, sobrancelhas levantadas em emoticon.
P2: Você quer vender performance ou livros?
Link esse texto //
1 Comentários
sábado, julho 17, 2010
Canto dos Malditos na Terra do Nunca 01
Já tinha se deitado por cinco dias dos últimos sete com ele. Havia lambido e intoxicado o suor e a pele. No último dia, enjoou e cortou a orelha do cara em pedacinhos. Não mandou pelo correio para ninguém. Simplesmente colocou em um pote e foi vender amoras.
Link esse texto //
0 Comentários
sexta-feira, julho 16, 2010
Nánáná
As palavras que o menino surtado reconheceu enquanto se estrebuchava no chão:
A. b.o.l.a. e.l.é.t.r.i.c.a c.o.n.t.o.r.n.a. o. c.o.r.p.o E.u. t.a.m.b.é.m.
Link esse texto //
0 Comentários
quinta-feira, julho 15, 2010
...
Ele estava tão bêbado, tão bêbado, que de madrugada levantou para beber água.
Link esse texto //
0 Comentários
quarta-feira, julho 14, 2010
Saudade da Copa 2010
Conversa de padaria. Mulher com buzina, bicicleta e cesto de pão encontra mulher à pé.
À PÉ (apontando para buzina): # Nossa! Ficou animada com o jogo ontem! À BUZINA: # É. À PÉ: # Eu também comprei uma ru ru ru, como se fala mesmo? À BUZINA: # Rururula. À PÉ: # Pois é, ô bicha que faz barulho.
Link esse texto //
1 Comentários
terça-feira, julho 13, 2010
Carta que invade manhã de chuva
Eu não queria ser doce, mas Zoey, tenho que dizer que as coisas mudaram. Trago notícias do lado da casa que você costumava brincar de caçar libélulas. Sei que você odiava e que fazia isso por mim. Confesso que quando passo por aquele lado ainda vejo as bichinhas amassadas na parede.
Espero seu telefonema, mas ele anda distante. Entendo que talvez você esteja correndo atrás dos coelhos e das canções que um dia cantamos no balanço de madeira. Mas odeio vê-la ir, assim, sem despedidas demoradas, sem voltas apressadas, sem laços bem amarrados.
Compreendo que o tempo entre as notas é único, mas dê um tempo. Lembre-se que a intimidade não muda com os meses. É algo que se tem ou não. Permita-se. Apareça para comer romãs.
Seu irmão, Lino.
Link esse texto //
0 Comentários
segunda-feira, julho 12, 2010
Pontudo
Furou os olhos com alfinetes para conseguir dormir. Só conseguiu dor de cabeça.
Link esse texto //
0 Comentários
sábado, julho 10, 2010
Carta para Amélia Luz
Quando reconheci Abu, Amélia, ele estava com os pés fincados na areia. Seus dedos se encontravam com os tatuís e ele olhava o mar. Era o fim do mundo. E como em todo fim do mundo, astros despencavam do céu e ondas gigantes torneavam a praia. Abu continuava ali, sentado, como se nada o atingisse. Estávamos sobrevoando quando vi sua cabeça preta, um ponto perdido. Pensei, ele vai morrer logo, pobre Abu. Mas quando o tsunami atingiu seu corpo e eu fechei os olhos para pensar em como Abu havia me divertido com seus chinelos remendados com pequenos piercings de prego, um pequeno estrondo atingiu nosso veículo aéreo. Abri os olhos e lá embaixo, como se nada tivesse acontecido estava Abu. Ele tinha sobre o rosto uma máscara de mergulho e me acenava com novos chinelos. Havaianas, as legítimas.
Só para mandar notícias, amor.
João Sério
Link esse texto //
0 Comentários
quarta-feira, julho 07, 2010
Tarde
Tarde. Duas horas. Alguns segundos e todos os milésimos congelados. O pano colorido balançava conforme o tempo corria. Balançava e esticava-se. De dentro trazia algumas cravelhas. Alguma tensão aplicada à corda. Algum eixo de rotação de peça. Algo perpendicular.
Não tinha necessidade de lubrificação, pois a demarcação individual era satisfatória. Mas a mão que agarrou a pureza e ensinou como se fazia era insuficiente. Era uma mão que retirava violência, que ansiava beleza, que cortava sons. Era uma mão que pedia silêncio para as mil coisas que não devíamos saber.
E era dela que os dedos vibravam. Que explodiam calor e frio. Que contornavam o ar pedindo ajuda. Ajuda para acalmar a pele, estabilidade para as imagens e fechamento de olhos para não perder lembranças. Já que lembranças escorregavam conforme iam sendo tocadas. Já era tarde. Duas horas. Alguns segundos e todos os milésimos congelados.
Link esse texto //
0 Comentários
terça-feira, julho 06, 2010
Un bicho en mi pantalla
Ronaldo não sabia que podia entrar inseto dentro do LCD. O bichinho andou nos pixels enquanto ele tentava limpar a tela. Achou que era viagem alucinógena provocada por um alho estragado. Quando o animal facebookeou-se e dissolveu-se entre o virtual e o real, ele achou que a experiência havia terminado. Quebrou um copo no meio. Pzppzpppzppppzpz som de piano no canto da sala explodindo pelas cordas graves. Até hoje coleciona cabeças esmagadas encontradas no fundo de algum resto de supermercado na esperança de visualizar o bailado novamente.
(Participação: Caixa de Comunicação Furada Por Buracos Negros http://www.sentidoabsurdo.blogspot.com/)
Link esse texto //
0 Comentários
segunda-feira, julho 05, 2010
O furo
Eram dois os olhos, furados como buracos em chão de areia. Eles observavam o céu. Furados como meias. E eram do tipo olhos que esfaqueiam. Daqueles que basta uma piscadela que você despenca como dominós em cadeia.
João tinha esses olhos, mas eles os descartava toda vez que anuviava por suas bandas. Gostava só de sentir o cheiro do céu, portanto colocava os olhinhos em um copo transparente de vidro e depois com os dedos abria e fechava as pálpebras. Não via nada, mas tinha prazer em tocar suas próprias íris enquanto no céu uma nuvem pesada rasgava.
Link esse texto //
0 Comentários
domingo, julho 04, 2010
O tear
Ele tinha um aparelho de pontilhar memórias. Algumas vezes ele as remendava só para depois descosturá-las. Aí então calava-se, já que não sabia costurar o silêncio.
Link esse texto //
1 Comentários
sábado, julho 03, 2010
Morro
Eram lisas as pedras no morro. Eufóricas. E a luz do Sol que batia nas partes mescladas parecia uma boca falante. Havia nelas musgo por onde o vento passava e ia e vinha como vapor barato. Havia o espaço por onde algo passava. Um vão. Uma colher de cavidade. Um tiquinho de densidade de ar. O sopro que mexia. Era um quê de paciência que ronda os mundos porque para enxergar as coisas era preciso estender o tempo.
E não era o tempo que corroía as pedras, era a luz e o Sol que surgia.
Link esse texto //
0 Comentários
|
|