sexta-feira, julho 30, 2010
Transporte
Era um cheiro de bala de côco com árvore exterminada por lagartas pretas e amarelas. E desse cheiro vinha não lembranças, mas sensações a fora. Sensações de vontades e desejos. Sensações de perder-se por minutos. Mas além de sensações, vinham as imagens que passavam pela janela do ônibus.
Tom sabia que as imagens passavam, mas não eram as visualizações que o intrigavam, mas a música que invadia seus ouvidos, gravada em alguma parte do mundo e replicada em seus ouvidos por aparelho eletrônico portátil. O ritmo. O silêncio entre as notas e a tristeza de ver as coisas passarem. Porque as coisas passavam e por mais que ele tentasse fixar as imagens na retina, elas não se perdiam, mas passavam, como todas as coisas que se toca e se vê.
Alguns diziam que o mal do século era a solidão. Outros que era a angústia. Outros a singularidade. Para Tom, o mal do século era não ter percepção. Perceber fazia o ar ficar preso. Uma reação química feita de energia. Era como um tapa em mosquito grudado na parede.
O mundo era simples. Como sempre foi. Como sempre seria.
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