# Alguém no beco?
Um pigarro respondeu: # Alguém no beco?
Eires: # Quem é você?
A voz: # Quem é você?
Caixa de Pandora? Eires não ia ficar brincando. Colocou os pés para fora do beco, mas a sombra o puxou.
# Quem é você?
Eires tentou se soltar, mas algo o sufocou. A sombra enfiava um lenço umedecido dentro de sua garganta, sangue escorria pelo dorso de seu corpo.
A sombra: # Quem é você?
Os olhos de Eires abriram e fecharam. Quanto mais ele tentava se soltar, mais o pano entrava boca a dentro. A coisa começou a ficar preta.
"Então é isso morrer? Mas eu ainda estou pensando!"
A sombra o prendia com mais força.
# Quem é você?
Em seu suposto segundo vital, ele viu seu pai mostrando a linha da vida de seu sobrinho. A beleza da vida não estava no céu nem dentro do humano e sim nos olhos daqueles que nos cercam e nos amam. Em seu pai mastigando uma goiaba, em seu sobrinho colocando cerol na pipa, em seu bocejo pela manhã seguinte.
# Quem é você?
A sombra o asfixiava. Viu seu corpo e sua pele roxa. Seu pensamento ainda estava lá.
"Não quero que me vejam morto em um beco." "Quantas coisas ainda não cheirei?"
A sombra quebraria seu pescoço nos próximos segundos. O pensamento de Eires explodiu quando viu que a sombra estava mais próxima.
# Eu sou Eires. Quero viver. Não quero morrer ainda.
O beco se abriu. A chuva torrencial despencou em sua cabeça. Eires abriu e fechou as mãos. Sangue escorria face abaixo.
# Quero viver, ele sussurrava em pensamentos.
Saiu do beco se arrastando, sem forças para explicar, sem suor para correr. Os pingos de chuva atingiam sua pele esporadicamente. Atrás de si, as sombras se escondiam.
"Vida bela", queria dizer.