quarta-feira, agosto 23, 2006

Dois cachorros e uma batata podre.

A batata estava podre. Chen abriu a gaveta de sua escrivaninha pela décima sexta vez. O cartão postal ainda estava lá. No computador de sua secretária tocava A boy like me. Uma mosca passeava pelo seu microfone. Pela janela ele viu um homem baixo tocar uma gaita de foles.

A batata está podre mesmo, pensou. Sinto o cheiro de vencido daqui. Minha barriga já está embrulhada só de pensar na acidez que trará a meu estômago.

Levou mais uma porção à sua boca.

# Esse é o jeito cosmopolita de morrer, injetando lentamente tóxicos intravenosos pela boca.

# Oi? Falou comigo, seu Chen?

# Desde quando você ouve música eletrônica, Samira?

# Tava barato nas Americanas.

# Você sabe o que eles estão falando?

# Eu? Claro que não, seu Chen.

# Eu quero dois cachorros, dois gatos, uma cozinha espaçosa e...

# Para agora ou para a próxima semana?

# Eu estava traduzindo para você.

# Ah! Não precisa.

# Você não quer saber de quê que se trata?

# Para quê?

A batata podre tinha atingido seu suco gástrico, ele sentiu quando ela afundou na imensidão verde.

Sentou novamente em frente ao computador. Abriu a gaveta de sua escrivaninha pela décima sétima vez. Pegou o cartão postal. O canto estava meio amassado.

“Paris é linda mesmo”.



Link esse texto // 2 Comentários





julho 2006
agosto 2006
setembro 2006
outubro 2006
novembro 2006
dezembro 2006
janeiro 2007
fevereiro 2007
março 2007
abril 2007
maio 2007
junho 2007
julho 2007
agosto 2007
setembro 2007
outubro 2007
novembro 2007
dezembro 2007
janeiro 2008
fevereiro 2008
março 2008
abril 2008
maio 2008
junho 2008
julho 2008
agosto 2008
setembro 2008
outubro 2008
novembro 2008
dezembro 2008
janeiro 2009
fevereiro 2009
março 2009
abril 2009
maio 2009
junho 2009
julho 2009
agosto 2009
setembro 2009
outubro 2009
novembro 2009
dezembro 2009
janeiro 2010
fevereiro 2010
março 2010
abril 2010
maio 2010
junho 2010
julho 2010
agosto 2010
setembro 2010
outubro 2010



Supercaliflagili...
Stuff no one told me
Post Secret
Mesa de Bar
Sentido Absurdo
O Diário Aberto de R.
Pigs in Maputo
Ventos Verdes
Sabedoria de Improviso
Páprica Doce
Escuridão