quarta-feira, agosto 30, 2006

Telefone sem fio

Cacau pegou sorrateiramente da cozinha de sua mãe duas latas grandes de extrato de tomate. Encheu-as de água no banheiro. O conteúdo vermelho descia ralo abaixo enquanto que ela dava um furo nas latas.

Andrey esperava do lado de fora. Cacau nem fechara a torneira direito e já estava pulando a janela da sala ao invés de passar pela porta. Andrey esperava com o barbante na mão.

# Vamos, rápido, Cacau! Vamos perder o sinal!

Andrey e Cacau correram pela ladeira abaixo. Cruzaram as ruas do Vidigal, nem prestando atenção à paisagem espetacular das praias abaixo. Desviaram de motoboys. Passaram disparados pelo Nós do Morro.

# Você ainda está vendo, Andrey?

# Sim. Cruzou a esquina. Mais rápido.

As ruas sempre estavam vazias às duas da tarde.

# Parou.

Andrey olhou para o céu boquiaberto. Cacau fez nós entre as latas e o barbante.

# Andrey!

# Você viu?

# Estica.

O menino obedeceu. Acima de suas cabeças um objeto ovular violeta fosforescente.

# Quanto tempo ele ficará dessa vez?

# Não sei.

Andrey foi para uma esquina e Cacau para outra. Esticaram o fio de seus telefones de lata.

# Tá me ouvindo, Andrey?

# Claro e perfeitamente. Conte a história, Cacau.

# Ok. Era uma vez uma vaca amarela.

Um barulho foi ouvido entre os dois. Ressonando por entre o barbante, ondas sonoras de comunicação.

# Uau, Andrey.

# Eles acham que...

Andrey lembrou de ET quando passava no fim de ano na sessão da tarde. De Contatos Imediatos de Terceiro Grau, de...

# Aí ela deu um peido e...

# Não! Espere, Cacau.

A menina levou um susto com o grito do amigo. Vinham fazendo isso há semanas, era assim sempre.

# O que foi, Andrey?

# E se tentássemos...

# Andrey...

Andrey insistiu.

# Por favor.

# Tá, só um pouquinho.

Andrey respirou fundo.

# Olá, estranho. Aqui é da Terra. Nós gostaríamos de saber...

Uma estrondosa gargalhada surgiu do meio do barbante, atingindo os ouvidos de Andrey e Cacau. Eles soltaram as latas e tamparam os ouvidos. O objeto no céu alaranjou-se. Encheu de branquidão a visão dos dois. Tamparam os rostos, se abaixando. Em um feixe de luz, sumiu.

Cacau levantou possessa.

# Eu te disse!

# Ah! Eu só queria perguntar se o esquema da cola que eu fiz para matemática ia dar certo.




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