quarta-feira, setembro 13, 2006
3 décadas de Cassandra
Nos anos 80, eram os cabelos cachorrona, com a franja cobrindo a sobrancelha e revoltos ao ar livre.
Nos anos 90, foram as jaquetas Hard Rock Café.
Nos anos 2000, vieram as chapinhas, escovas progressivas e depilação a laser. Cassandra se entupia de pizza e lanche nos Giraffas. Qualquer coisa tinha drenagem linfática.
O que três décadas fizeram com essa mulher é de quebrar o queixo. Michael Jackson era pinto. Até o lóbulo da orelha foi mexido. Dizem que foram 30 operações, mas eu ainda acho pouco.
Um dia, Cassandra cansou-se do consumismo. Doou todos os seus bens. Sua família dizia que eram influências budistas, mas há rumores de que ela montou um camping em Trindade e no inverno vai para Visconde de Mauá. Certa vez ela veio com uma história de duendes.
# Aí, Fantinho. Toda manhã eu abria a porta da frente da casa e a de trás. O pequeno saía do jardim, atravessava a casa e desaparecia. Era uma experiência maravilhosa...
# Você cria cogumelos? eu perguntei.
Dia desses um amigo me disse que ela tinha falecido.
# Pois é, Fantinho. Eu tava na Vivenda do Camarão e Cassandra tava na pedra. De repente a mulher mergulhou e sumiu! A aldeia tá de luto! Uns fazem oferendas, há histórias de raptos por aquela região também.
# Sei, eu disse. Gaguinho era conhecido pela teoria de que Jesus Cristo era alienígena. Ele passava os feriados circulando passagens na Bíblia que descreviam objetos voadores não-identificáveis. Era comprador assíduo da revista UFOS. Ou seja, um mês depois recebi um email de Cassandra em uma praia de nudismo. Ou os ets estavam de férias ou meu velho pc tinha sido invadido por vírus do além.
Ela ressuscitava de vez em quando. O engraçado é que ela sempre tinha o poder de me achar. Me ganhava só com a risada. Sou da teoria de que as mulheres precisam ser divertidas. Minha mulher me expulsou de casa porque eu passei 48 horas rindo com Cassandra no banheiro. Loló, seu cão, adorava manteiga de amendoim. Ficamos agarrados nele. Perdi um casamento, mas as risadas ficarão para sempre.
Cassandra foi para São Tomé das Letras. Eu fiquei com Loló. De vez em quando ela manda cartas. Finas, 1 centavo, carta social. Meu melhor livro de comédia.
Loló continua a apreciar manteiga. Isso nem chega mais perto do meu corpo. Mas de vez em quando eu fumo um beck para ativar a aura. Eu rio daqui e ela de lá.
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