sábado, setembro 30, 2006

Decalques de primavera

Cotias. Cotias atravessam o gramado. Mais pontes onde não existem travessias. Hebert leva debaixo do braço um caderno mágico. Suas palavras são wormtales imagéticos. Ele gostava de poder tocá-los, mas fazem parte de outra dimensão. Um espiral ventoso e ele se vê em cada sílaba pré-posta.

Não chove na outra dimensão. O vento processa seus pensamentos. Hebert é um receptor, mas precisa de um doador para o elo. As palavras continuam a prendê-lo perto do espiral. Ele vê a vida do ponto de onde partiu.

Cotias gordas atravessam o gramado. Elas pulam e se desmaterializam. Hebert engole a saliva rapidamente. Em sua direção a visão de seus sonhos: lisa, flutuante, coberta de borboletas, decalques de primavera. A taquicardia começa. A hipotermia o seduz. É o preço da carne, da pele, dos ossos.

O que inspiramos são almas alheias. O que expiramos são sopros de dúvidas. Ele se doou mesmo assim. Ouviu o estopim do metal ao longe. A paz o invadiu. Porém a paz não é feita para o homem porque ele criou o tédio. O tédio é o desejo suprido, o depois do fazer.

Hebert tentou se segurar. Se aquecer no Sol. Havia muito doce em seu coração. A visão lhe mostrou seus segredos.

Há música quando dormimos. Uma trilha sonora para a divagação de Hebert. Para que ele possa se perder em pensamentos altos. Para que ele dê senso ao mundo, para que ele infle idéias em seus sonhos.

Metade dos desejos são frutos de um criminoso entediado. Hebert esperou anos para alcançar as cotias. Perdeu todas as moedas. Os pêlos das sobrancelhas. A unha mindinha. As canetas importadas.

Descobriu no espiral o que faltava em seu vazio interior. Compartilhou novos segredos quando voltou. Não era mais o receptor, mas o elo. O invisível que nos liga. O homem que possui todas as palavras do mundo.



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