sexta-feira, setembro 01, 2006
Rave de Botafogo
O matemático apressou seus passos. Trazia debaixo do braço sua tese de doutorado. Estava aproveitando seus últimos dias de anonimato apreciando a noite da cidade urbana. Sua vida cheirava à metrópole.
# A vida é uma grande rave importada! - gritou para o eco, enquanto que vagava aos pulos, ouvindo música em seu aparelhinho de camelô.
Dançou sozinho no meio dos mendigos. Passou na Bunker só para comprar uma bala de ecstasy e sair agitando-se pelas ruas que cercavam sua casa. Ironicamente pegou uma com um desenho de borboleta. Pulou dançando alegremente entre a rua da Passagem e a Álvaro Ramos. A droga do amor logo começou a fazer efeito. O asfalto estava mais perto. Os prédios se fechavam formando paredes.
# Eu quebrei a teoria do caos! - ele cantava ao som de Massive Attack.
# Não há borboletas! Não há tufões!
Amanhã era o dia de apresentar a conclusão de seu trabalho. Sua camisa estava encharcada de suor. Seu coração batia rapidamente.
Preciso de água.
O homem de 45 anos bateu de porta em porta pedindo água. Ninguém o atendia. Ninguém atende um homem suado à meia-noite no Rio de Janeiro.
Bateu na porta da Band. Seu corpo estava desidratando. O porteiro jogou uma garrafa para ele.
Bebeu rapidamente e ao colocar o objeto de plástico no lixo, foi rendido e colocado dentro de um carro. Espancado, deu a senha de seu cartão. O seqüestro-relâmpago durou 40 minutos. Junto com sua carteira, levaram sua tese. O seqüestrador com uma escopeta nova ainda riu, reluzindo um sorriso metálico cheirando a novo:
# Desde ontem que estamos com sorte. Valeu, bundão!
O matemático chorou. Na carteira, estava seu pendrive com todo seu trabalho de 2 anos.
BRASÍLIA. 48 horas antes.
O filho do matemático dá 200 notas de 100 para um homem barbudo:
# Você acredita na teoria do caos, Alexandre?
# Que isso, doutor?
# De que o bater das asas de uma borboleta em um ponto da Terra pode provocar um vendaval no outro extremo da Terra em semanas.
# Claro que não, doutor.
# Um seguidor de meu pai, então. - riu sozinho. Você sabe que esse dinheiro tem que ser usado somente para a parada do Rio, né?
# Sim, claro.
# Só drogas de amor. Nada de branco.
# Sim.
# Ao invés de coração, peça para desenharem uma borboleta dessa vez.
# Ok, doutor.
# Use o dinheiro só para isso.
# Claro, doutor - riu o homem barbudo, reluzindo um sorriso metálico cheirando a novo.
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