terça-feira, setembro 26, 2006

Tubo de Krasnikov

O bilhete em cima de sua cama.

“Por mais que tentemos congelar a passagem do tempo, como nas fotografias, ele foge de nós”.
Ass.: Daniell


Maia abriu desesperada a gaveta de sua escrivaninha. Revirou pastas, amassou papéis. A menina de cabelos enrolados olhou debaixo da cama, atrás do guarda-roupa, ao lado da penteadeira. Sentou derrotada na cama. Encharcada de suor, passou a mão na testa. Era muito cansativo se concentrar. Era cansativo pensar nas dívidas, no namoro instável, na política governamental. Ela não conseguia encontrar as lágrimas necessárias para o sopro do desespero.

A descoberta da fotografia representa um corte. Permite registrar vestígios duradouros e inequívocos de um ser humano. Fotomaníacos do mundo internauta expõem suas marcas morosas, esfregando na cara de outro humano a felicidade óbvia.

O que Maia controlava era o corte de suas fotografias. Olhou mais uma vez para o teto. Podia ver Bollywood. Podia ver Daniell sentado em frente ao computador desejando a sorte do mundo. Podia tocar as teias de aranha, congelar a atmosfera. Ela aprofundou-se. Estudou meticulosamente as estratégias. Se o desequilíbrio acontecesse seria culpa dela. E ninguém quer brincar com as conseqüências de outrem.

Precisava pensar. Onde teria arquivado? Onde teria seu cérebro escondido o que tanto desejava?

Lembrou do loop casual. O objeto auto-existente, aprisionado no espaço-tempo. Abriu a porta do guarda-roupa. Escondida e envolta a um lenço do Snoopy ali ela estava.

Amarelada pelo tempo a imagem não colorida. O atalho entre duas regiões longínquas. Seu tubo de Krasnikov.

Desamassou a fotografia. Os olhos não estavam congelados. Piscavam. Havia sido tirada quando descobriram matéria exótica. Quando construíram os tubos, quando havia energia negativa a balde na superfície. Embora a matéria constituinte do tubo de Krasnikov tenha densidades de energia positivas, o interior das suas paredes possui densidades de energia negativas extremamente elevadas. Era isso que buscava. O seu progresso interior. A sua glória momentânea.

O retrato preto e branco era sinal de crença no futuro. O olhar para a lente é uma visão de esperança. Ela deitou-se. Abraçou fortemente sua visão e fechou os olhos.

Maia abriu desesperada a gaveta de sua escrivaninha. Revirou pastas, amassou papéis. A menina de cabelos enrolados olhou debaixo da cama, atrás do guarda-roupa, ao lado da penteadeira. Sentou derrotada na cama. Encharcada de suor, passou a mão na testa. Era muito cansativo se concentrar. Era cansativo pensar nas dívidas, no namoro instável, na política governamental. Ela não conseguia encontrar as lágrimas necessárias para o sopro do desespero.

O bilhete não estava mais em cima de sua cama.




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