sexta-feira, outubro 13, 2006

Dry Martini

Natalí Serrazine odiava palhaços. Tinha complexos de Billy, achando que eles eram todo o mal existente do mundo. A cara borrada, as roupas brilhantes, a risada demoníaca. O nariz era vermelho sangue. Sabia da existência maligna deles, mas só comprovou depois de assistir Palhaço Assassino. Ou seria Um dia de terror? Odiava ir à festas infantis de 1 ano com tema de palhaço. Os humanos diziam que trazia sorte. Para ela era tortura milenar.

Tudo piorou quando, na festa de fim de ano, seu chefe montou um circo. O insuportável globo da morte, os magrelos trapezistas, os ursos raquíticos, os pierrôs amaldiçoados, as bailarinas anoréxicas. E a presença do temor maior: o palhaço coisa ruim.

Ele pipoca igual algodão-doce na chuva, molhando tudo, grudando em todos. Com calças de bolinhas, cabelo de boneca, pele branca. Natalí queria se transformar em mulher bomba e matar o carequinha.

O chegou chegou tá na hora da alegria foi engolido a seco. Ela pediu um Dry Martini.

A buzina agonizante estava na mão da coisa ruim. Ele pulava igual canguru com hemorróidas. O estômago de Natalí embrulhou.

“No circo tem palhaço, tem tem todo dia. No circo tem palhaço tem tem todo dia”.

Passou um ovo de codorna à sua frente. Deslizou garganta abaixo. A coisa do mal estava na piscina de bolinhas. Seu chefe estava com Dorinha na cama elástica.

Natalí tomou mais um Dry Martini. Foi parar na sua mão um garfo.

O horror demoníaco ainda estava entre as bolas coloridas.

“Desfrute cada dia!” era o que seu pensamento latejava. Como curtir alguma coisa com um ser maléfico à solta? Ele soltou uma gargalhada do inferno de Dante.

Mais um ovo de codorna e um Dry Martini. Natalí passou pela algazarra circense, em direção à piscina de bolinhas. O eco da risada ainda zumbia. Levantou a mão e cravou o garfo no nariz do palhaço. A ira a possuiu.

Um segundo e todos pararam. Dois segundos e a gargalhada foi geral.

O garfo era de plástico.



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