terça-feira, outubro 03, 2006
Lojinha de brinquedos
O trem apitou. O soldado bateu palmas. A bailarina rodopiou. O Fofão piscou os olhos. João e Maria na casa de chocolate. Um, dois, três, era uma vez...
Era uma vez um casal de gêmeos, Teresa e Nando. Idênticos, diferentes somente pelo sexo. Canhotos, tinham um olho castanho e um verde. Adoravam comer na Brownieria, depois de visitar a lojinha de brinquedos. Eles sempre encontravam a loja vazia. As crianças da redondeza tinham medo da loja. Diziam que havia almas presas nos bonecos. A lenda era de que o Fofão tinha uma faca na barriga e que à meia-noite a usava para extirpar barrigas infantis repletas de doces. Teresa e Nando não comiam doces, só brownies.
Não eram atingidos por maldições. Eles é que espalhavam os feitiços. Adoravam ver a cara dos pequenos, espantados com as histórias dos brinquedos vivos.
Todos os dias chegavam na Brownieria com vale 10 brownies. Cansados das perguntas das crianças, resolveram testar os espíritos presos.
Nando trazia na mão uma folha branca. Teresa um compasso grande. Azul. No meio da loja sentaram no chão. Desenharam as letras do alfabeto ocidental. Mais: do bem e do mal.
Não sabiam invocar, então gargalharam. Márcio passara na frente minuto antes e arregalara o olho quando avistou o compasso. Correu e chamou o máximo de testemunhas possíveis. Menores de 1,50 se encurvavam para ver o acontecido. Teresa, cética, zombou dos brinquedos. Nando segurava o compasso quando um trem começou a apitar. As testemunhas afastaram suas testas do vidro da loja. Queriam ver, mas não queriam participar. O sorriso de Teresa fechou. Ela balbuciou palavras da língua portuguesa.
# Você é do bem ou do mal?
O compasso riscou a folha. As testemunhas nem movimentavam os cílios. A ponta do dedo de Nando tremia.
# O que você quer, espírito?
B
# Teresa, troca de lugar comigo, não quero mais segurar isso.
R
# Não, Nando.
O
# Por favor.
W
# Você começou, você termina.
N
Mais testemunhas se aglomerava.
I
A rua esvaziava. E o vidro da loja enchia.
E
O compasso rabiscou a folha. Teresa e Nando correram. As testemunhas infantis começaram a gritar.
BROWNIE!
Tíquetes caíam do teto. Todos valendo 10 brownies. A porta não abriu.
As testemunhas quebraram o vidro. Teresa e Nando saíram rapidamente enquanto que os brinquedos zumbiam brownies.
A Brownieria fechou. Não havia mais clientes.
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