quinta-feira, outubro 05, 2006
O guarda noturno
Tornou-se guarda por paixão. Adorava usar jaqueta de napa preta e boné dos Yankees. Não sabia o que Yankees significava, mas achava a palavra bonita assim mesmo. Adorava palavras com Y.
Embaixo da jaqueta, uma camisa mostarda. Cinto preto, calça preta, meias brancas. Sapatos brilhantes com a boa e velha graxa.
Adorava expulsar os drogados com um “Posso ajudar?” Fazia ronda com orgulho. Tinha uma cruzadinha Coquetel para os dias chuvosos. Sua arma era seu walkie talkie e sua barriga de churrasco de fins de semana. Potente, era só empiná-la que adolescentes se afastavam.
Usava uma diferente colônia Natura a cada 15 dias. Encantava-se com Roberto Carlos. Ele e a mulher sempre iam a seus shows.
Aí veio a reeleição do país. Bolsa escola, camisetas gratuitas, santinhos penalizados. Foi substituído por dois garotos de 20 que matavam turnos de sexta-feira e ganhavam menos.
Aposentou-se. Nunca mais votou.
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