terça-feira, novembro 07, 2006
Aline
Aline abriu o olho. Cama fofa. Travesseiro de ervas. “Você acordou, querida?” Uma piscadela. Duas. “Será que estou...” “Bem, bem... Não era isso que você queria?” Aline mexe a cabeça. Branco insuportável em tudo. Limpeza total. “Angelina.” “Fui mais conhecida como sua mãe, não?” “Mãe?” “Que merda você fez com seu corpo agora, menina?” “Corpo?” “Presa nessa cama, com os batimentos contados. Você ainda tem medo de morrer, bonequinha?” Braços presos, pernas atachadas. Aline com lábios cortados. “Do que você está falando?” “Era disso que você fugia, não? Da sua vida? Da sua mente?” “Eu quero ir embora daqui.” “Sempre querendo ir embora, sua vadia. Sempre fugindo das merdas. Inconseqüente. Retardada. É isso que você faz na vida, sua ingrata?” “Mãe, me tira daqui!” Aline se desprende da cama. Abre a porta. Nenhuma janela. Escada longa e alta. Aline sobe. Sobe. Sobe. Bate em outra porta. Sobe. Bate em outra porta. Desce escada em espiral. “Angelina! Me tira daqui!” Abre mais uma porta. “Ai, Aline. Que coisa. Para que você vai correr tanto? Você só tem 48 horas de vida mesmo.”
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