quinta-feira, novembro 30, 2006

Encantado dia chuvoso

Zacarias pisou no chão frio da gruta. Seus pés deslizaram pelo limo, mas ele se agarrou a uma folha de samambaia. Debaixo de seus pés, grossas peles cascudas e sujas. Esta é uma história da cidade, vinda de uma história do mar.

Os pescadores de Ilha Grande dizem que havia um gigante que comia morangos mofados do outro lado da ilha. Ele se escondia dentro de uma pequena caverna, encurvado e cheirando a frutas estragadas. O cheiro se alastrava quando ele ia dormir. Línguas d’água escorregadias percorriam quilômetros da praia, fazendo com que turistas fossem mantidos afastados. Segundo os pescadores, o gigante escondia tesouros embaixo de suas axilas, ao redor de suas pernas e ao longo de seu tronco. Como vivia agachado, muitas pessoas não percebiam nada quando chegavam perto.

Zacarias atravessou a trilha entre Dois Rios e Parnaioca. Viu uma família de macacos bugios caminhando pelas copas das árvores e fileiras de formigas enganando cigarras. Precisava se concentrar e sentir o cheiro podre. Zacarias tremeu a língua contra o palato produzindo um som universal de chamada de cães e o gigante se mexeu. Agarrou uma samambaia quando o odor fez seu corpo se curvar para trás. Um barulho de terra sendo remexida logo fez com que seu pé deslizasse. Ele seria o único ser humano que veria um gigante em toda a História da Humanidade. A ganância de desvendar o desconhecido fê-lo agarrar um cipó marrom. Sentiu as pisadas chegando mais perto. Era um encantado dia chuvoso e Zacarias começava a formar um pequeno sorriso de vitória quando um chimpanzé puxou seu rabo marrom das mãos dele, fazendo-o escorregar pedra abaixo. A terra vibrou e ele ainda pode ver o gigantesco amontoado de macacos envolta dele. O sangue escorria face abaixo. Zacarias piscou uma vez. O chimpanzé, com o rabo machucado, jogou uma pedra na direção de Zacarias. Os outros macacos fizeram o mesmo. Logo depois limparam suas nádegas com dedos e folhas. O cheiro podre vem agora de um Zacarias falecido.



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