terça-feira, novembro 21, 2006
O vendedor de almas
Ela acreditava no amor piegas. E toda vez que gaguejava lembrava do bolo de chocolate que o menino da terceira série tinha lhe presenteado. Ela passou a vida não conseguindo perdoá-lo. Desaparecer e deixar suas bochechas avermelhadas. Suas cerejas eram imantadas por meninos de olhos verdes. Se ela não poderia tê-lo dentro do imo, mentiria para sempre até encontrar a válvula certa para seu coração.
Foi por isso que se casou. Trepava por suor. Despedaçando cada ingrediente de sua mente acabaria com cada substância doce enquanto era picada. Teria o coração rasgado por sêmen alheio, por pêlos que não caberiam em suas curvas. Ela ainda lembraria do menino da terceira série, porém. O único que dissera oi quando todos se foram. O menino que tinha os mesmos lápis de cor. Aquele que tinha o estojo azul de modelo igual ao dela.
Ela mentiria mais e mais para dormir com o travesseiro de penas. Quebraria todos os ossos, mas não conseguiria esquecer quando ele colocou seu cabelo atrás de suas orelhas de abano e disse: Você pode vender sua alma, mas não pode comprá-la de volta.
Anos depois descobrira que o menino era fã de Ben Harper quando ele deu uma palhinha em um show do Pearl Jam. Passou cinco anos repetindo a mesma música para que ele aparecesse na batente de sua janela. Mas o menino da terceira série não saía de sua lembrança e nem se materializava.
Dizem que muitas lembranças que temos são inventadas. Ela gostaria de ter certeza, mas não sabia mais agora. Para ela, o menino era um vendedor de almas. Tocava em cada menina para mostrar que a alma singular podia ser trocada por uns trocados de silêncio quando quem não queremos nos invade corpo adentro. Ele ensinou que antes de amar, ela deveria perdoar mil vezes.
Ela gostaria, mas continuou a repetir Ben Harper.
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