segunda-feira, novembro 20, 2006

Salamandras não são jacarés

# Salamandras não são jacarés, Lorena.

Lorena abriu a porta da geladeira. Retirou um copo de água gelada. A modernidade de seu tempo era alívio para os preguiçosos e mais trabalho para as empregadas domésticas. Somente no Brasil a pessoa responsável pelo trabalho de casa ganhava pouco. Para todo o resto do mundo, essas pessoas eram luxo.

Ao engolir a substância potável viu os olhos brilhantes, ilustrados por óleo de Peroba. Os eletrodomésticos nos dominavam. Ela era mais uma escrava deles.

Enquanto o líquido escorria traquéia abaixo se deu conta que não tinha diversão sem TV, roupa lavada sem máquina, comida quente sem microondas, comunicação sem telefone.

Se ficasse sem computador, ficaria isolada. Se ficasse sem sofá, não estaria relaxada. Se ficasse sem bubble gum, não desenvolveria um calo no estômago. Um horror.

O copo estava suado. Lorena viu o computador e a TV prestes a atacá-la, mas o som começou a tocar It’s the end of the world...

A música salvou a menina. A sujeirinha que estava infiltrada no cantinho da geladeira foi ressaltada. Lorena gritou. A empregada acordou. Desceu as escadas correndo, quase tropeçando em sua camisola filó. A pobre coitada ainda estava meio que sonhando com Magal.

Lorena apontou para o local. A empregada logo viu que a filha da patroa teria a noite para atormentá-la.

# Salamandras não são jacarés, a filha da patroa disse.

Pensando em seu PIS, a pobre coitada esfregou com sabão Limpol a fresta de sujeira às três e quarenta da manhã. Lorena foi para cama e deitou-se em seu edredom MMartan. Amanhã, pensou, exploraria mais seu objeto preferido.



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