quarta-feira, dezembro 27, 2006
O nosso mestre é o Guedes!
Elisael levava uma vida robótica. Todo dia ia dormir às 10 da noite e calculava oito horas seguidas de sono para acordar. Mas na ante véspera de seu aniversário de trabalho, acordou suado e ofegante no meio da noite.
Meu Deus, pensou. Nunca acordei de madrugada!
Deu um sorrisinho e lembrou que havia esquecido de passar seu fio dental extra fino.
Oito horas de sono, pensou. Fechou os olhos. Era uma noite de primavera e o tempo estava calmo.
# O nosso mestre é o Guedes! O nosso mestre é o Guedes! O nosso mestre é o Guedes!
Elisael arregalou os olhos sem olheiras.
# O nosso mestre é o Guedes! O nosso mestre é o Guedes! O nosso mestre é o Guedes!
Olhou para um lado, o suor escorria entre as costeletas.
# O nosso mestre é o Guedes! O nosso mestre é o Guedes! O nosso mestre é o Guedes!
Tirou o lençol do corpo rapidamente.
# O nosso mestre é o Guedes! O nosso mestre é o Guedes! O nosso mestre é o Guedes!
Agarrou-se ao travesseiro. Silêncio. Ele estava acordado e sem sono. Era assim a insônia? Escutou os barulhos da madrugada. Um tic tac pulsante de seu coração. Um latido de buldogue na rua vizinha. Um bater de asas de morcego. Um mosquitinho solitário. O passar de um avião. A eletricidade dos postes de luz.
Foi ao banheiro e higienizou seu dente sensível. Quando voltou, o sono havia voltado. Junto com ele, uma brisa noturna e o incômodo do silêncio.
Sentou na cama. Retirou seus chinelos especiais dos pés. Puxou o lençol para perto do queixo. Deitou confortavelmente em seu travesseiro de fronha azul. Quando os cílios de cima atingiram os cílios de baixo...
# O nosso mestre é o Guedes! O nosso mestre é o Guedes! O nosso mestre é o Guedes!
Elisael decidiu permanecer de pálpebras fechadas. Sussurros sopranos rondavam o quarto.
# O nosso mestre é o Guedes! O nosso mestre é o Guedes! O nosso mestre é o Guedes!
A raiva tomou conta de Elisael. Ele levantou furioso, retirou todos os lençóis da cama, revirou o colchão, descabelou-se. Já era quase a hora do galo quando encontrou no rodapé do guarda-roupa uma fileira de formigas anães, perto de sua coleção de aparelhos de barba usados. Elas entoavam cânticos de felicidade. # O nosso mestre é o Guedes! O nosso mestre é o Guedes! O nosso mestre é o Guedes! – diziam.
Elisael Guedes desde então as guarda dentro de um pote de tupperware. Quando a insônia vem, ele as retira e se diverte vendo-as comer manteiga molenga.
Link esse texto //
2 Comentários
|
|