quinta-feira, dezembro 28, 2006

Sono final

“Meus olhos estão nos olhos dos heróis que eles inventam, no hálito do viajante que sonha com a antropologia social, no abraço do perdão do amigo, no sexo tântrico dos casais coloridos, no sono final da vida.”

Carlos Eduardo fez uma bolinha de papel de seus pensamentos escritos. Não foi cesta. Fechou a gaveta de sua mesa de escritório. Endireitou todas as canetas Bic, sondas espaciais. Ele conferiu a numeração do objeto quando a teoria de conspiração disse que elas eram instrumentos de identificação alienígena.

Dois minutos depois, deu uma pequena mordidinha na tampa da caneta.

Resoluções para o próximo ano, pensou. Isso sempre acontece quando a hora do almoço está chegando e o pequeno tédio se instala entre a mesa do escritório e a pessoa de Carlos.

Fechou a janela do Googletalk, limpou sua caixa de email. Resolveu assear seu mouse, tirar as sujeirinhas incômodas.

# Preciso comprar um mouse ótico, gritou para o estagiário.

Ele era bom com os estagiários, sempre os liberava 10 minutos antes do expediente.

Eu tenho uma alma, mas não sou soldado, pensava às vezes.

Ele poderia levantar e sair logo dali, mas não fazia. Era chefe dos estagiários, mas não chefe do departamento.

Carlos Eduardo pegou seu marcador permanente e escreveu o nome do Monobloco em seu DVD virgem.

Resolução 1, pensou. Pensou e pensou. Às vezes o cérebro pára e congela em uns milésimos. É nesse tempo que caímos em múltiplos pensamentos bizarros.

E se eu morrer exatamente daqui a 1 hora?
E se o leite azedar e eu ter que beber miligramas podres?
E se cylons descessem agora e dominassem o planeta de novo?
E se Jack Bauer descobrisse que era na verdade MaGyver?
E se os estagiários colocassem bombas caseiras dentro dos banheiros dos funcionários?


Assim como eles chegam, eles vão. Pensamentos bobos duram uma eternidade, mas idéias brilhantes somem em questão de segundos.

# O que você disse, chefe? – perguntou o estagiário.

# Droga, Jeffe. Você me atrapalhou de novo! – respondeu Carlos Eduardo.

# Você não me gritou?

# Não, eu só não quero que você vá ao banheiro agora. Tem como gravar aquele DVD para mim?

# Tá, chefe.

# E além disso...

# Sim?

# Esqueci. Deve ser a fome.

O homem coloca a lapiseira no furinho da Bic preta e roda.

Resolução número 2, pensou.



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