quarta-feira, dezembro 13, 2006
Tina
Ela não suportava contatos sociais. Era mestre na arte de evitar pessoas. Por isso mesmo, sabia como ninguém o que acontecia no mundo.
Era conhecida como Tina Turner, porrada verbal que nem Ike.
# Oi, gatinha.
# Ninguém mais usa essa palavra. Cai fora, gatinha ficou no fim dos anos 90, junto com filé.
Evitar companhias, lema 1. Dizia que o ser humano era traidor por natureza.
# Ele, Tina? Mas ele é honesto.
# Vai por mim, um traidor pode ser tão honesto quanto nós duas.
A verdade é que ninguém suportava ficar perto dela. Um poço de desculpas inteligentes.
# E você dá por trás?
# Claro, o expelir de fezes é um miniorgasmo sedutor.
Algumas vezes, tinha pressentimentos do além.
# Quebrei meu celular. E agora? O que faço?
# A habilidade psíquica é coisa normal, não sobrenatural.
Outras, ela usava táticas de tia.
# Eu não consigo parar de roer unha, menina!
# Já tentou fumar unha? A unha é como fezes, você vai expelindo.
Muitas vezes, ela apelava para expressões catadas em cadernos escolares do fim dos anos 80.
# Eu juro, querida, é a última rabanada.
# Não minta para mim, ameixa seca.
Outras vezes, ela era delicada e simples.
# Você pode passar o Natal lá em casa. Tem uma jacuzzi onde nos encaixamos perfeitamente.
# Não, obrigada. Faço parte da Sociedade Abolimos o Natal, muito nojo de banheira. Sabe como é, trauma de motel.
Ela era, enfim, feliz.
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