segunda-feira, dezembro 25, 2006
Tula
Ele havia viajado para a capital da Hungria, interior da França, Fiordes da Noruega, Saara, Muralha da China, Toledo na Espanha, Monte Fugi e Lençóis Maranhenses.
No sul da Sibéria Oriental, Rússia, encontrou no Lago Baikal um pedaço de uma carta, rasgada em dois pedaços.
No Colorado, Estados Unidos, achou o segundo parágrafo na Mesa Verde.
Em Sri Lanka, sul da Ásia, a última linha no pé da Montanha do Leão. O meio em Lisboa, no Mosteiro dos Jerônimos. A terceira parte nos Templos de Abu Simbel, sul do Egito.
Montou o fim do quebra-cabeça na Porta de Ishtar – Iraque.
Desde então, vem tendo sonhos estranhos. Um homem de bigode entra em sua casa e ele acorda perto do Vulcão Etna. A passagem até Sicília é longa. Suor e batidas repetidas em um pedaço de ferro. Alguém quer a carta.
Ele diz que não a possui. Alguém quer a carta. Ele diz que não a possui.
A sombra de alguém o pega pela goela. O pomo de Adão está sendo espremido. Mas antes dos olhos virarem e a tortura terminar, ele lembra do Mar Morto. Como viu corpos sendo jogados e um cheiro forte subindo com a maresia.
O destino do homem, pensa. A humanidade se decompõe devido ao tédio. Ele se vê juntando os pedaços da carta, colada em minuciosas fitas durex.
Dubrovnik, Croácia. Ele queima a carta. A cola do durex é lentamente derretida.
Ilha italiana. Ele diz que não a possui. Alguém quer a carta. O pomo de Adão está sendo espremido.
A carta some porque a consciência está sendo dissipada pela violência da sombra das mãos de alguém que quer a carta. O corpo é jogado no lixo central de um grande depósito de carvão. A sombra caminha por um grande corredor escuro.
Na região central da Califórnia, na Floresta de sequóias, um novo corpo recebe as memórias dele. As lembranças da carta e um destino em Tula. Ele levanta, tonto.
# Cidade do México, ele diz. Leva sua mão ao pomo de Adão.
# Cidade do México? – uma sombra atrás da sequóia aparece.
# Ataques suicidas – ele diz. Abomináveis.
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