segunda-feira, janeiro 15, 2007

Abre caminho

Arruda, guiné e abre caminho. Depois de um bom banho, 1 vela e 1 pedido. Proteção divina.

Sandoval sai do banheiro com sua caixa de aranhas albinas. Papa moscas. Sentado 6 minutos depois em sua calçada de ladrilhos vermelhos, ele se assusta com o barulho do velotrol do garotinho japa de 3 anos. Alta tração nas rodas de plástico.

Ao abrir a caixa cuidadosamente, um raio ultravioleta penetra no interior fazendo com que as aranhas sejam perturbadas. As crianças vibram.

O ninho de amor é um pedaço de arruda com figueira. Sandoval apostara com os meninos da rua que suas aranhas chegariam à Rua Augusta sem serem atropeladas. Elas seriam guiadas por seu assobio.

Luquinha e Matheus apostaram 10 reais no veículo que atropelaria as albinas. Gertrudes e Amelinha apostaram 25 babaloos. Sandoval só queria a fama.

Nunca ele fora tão aclamado. Suas amigas albinas adormeciam tranqüilamente dentro do interior de papelão enquanto que apostas corriam pela rua Leopoldina. Pardais, havaianas, cerol, pipas de times de futebol. Tudo era apostado. O veículo mais cobiçado era o caminhão de lixo que sempre passava às 2. E ninguém, ninguém votara na sobrevivência das albinas.

Às 13:30 Sandoval soltou as bichinhas. Pobres criaturas, perdidas com a luz do sol. Rodopiavam feito baianas na ala velha. Meninos e meninas gritaram de euforia quando o caminhão cruzara a esquina.

Sandoval, compenetrado, entregara seu destino à fé louca dos que crêem.

As criaturas albinas estavam se dispersando aleatoriamente, quando Sandoval grita:

# Rua Augusta! Sigam-me!

Passos firmes de sandálias Ipanema. Sandoval coloca a mão na testa. O sol brilha brilha lá no alto. Ele assobia.

# Rua Augusta! Sem sol! Sigam-me.

Os meninos da rua gargalham. O caminhão parece empinar no asfalto. Sandoval vai pela calçada firmemente repetindo:

# Rua Augusta! Sem sol! Sigam-me.

Os dois menininhos da calçada da frente foram os primeiros a abrirem a boca. O caminhão de lixo percorre cada centímetro asfaltado da rua Leopoldina. As aranhas albinas somem e reaparecem na rua Augusta. Dependuradas por um fio de teia, elas abrem caminho, pêndulos no caminhão de lixo.

Sandoval acena.

# Adeus, amigas.

Ele agora seria o dono da rua.



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