quarta-feira, janeiro 03, 2007

Estrelas

Melinda queria ter os poros arrancados. Era como se estuprassem sua mente. Como se ela tivesse sido corrompida, agredida por um corpo alheio. As vozes daqueles que dormem na esquina eram insuportavelmente frias. Os ossos doíam.

Entretanto, naquela tarde ela ouviu um assobio, longo e insistente.

O mundo que se deixa para trás é feito de cores quentes, porém. E há aqueles que montam no camelo e saem pelas estrelas, sorrindo para o nada. Era nesses que ela se apoiava, pilares para mundos que não compreendemos. Ela os ajudava e tirava deles força para abrir os dedos e deixar escapar as águas de sua pele. Por mais que fosse dolorida a passagem, ainda havia mais poros a serem fechados.

Naquela tarde, Melinda abriu a janela de seu apartamento do segundo andar. Ouviu passos no piso de cima. Escutou as rodas de um doceiro ambulante pela rua. Lá embaixo um homem sorria, transmitindo um assobio, longo e insistente. Ele estava fazendo a passagem. Melinda não sentia mais os ossos doendo porque o homem tinha um assobio parecido com o que seu pai a ensinara dez anos antes.

Ele se foi, certo de seu caminho. Ela não mais ouviu vozes frias. No chão da sala, uma poça de sangue se formou, descendo de suas pernas longas e desengonçadas. O branco da sala foi tingido pela sangria.



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