quinta-feira, janeiro 18, 2007

Ony-Akara

Miranda planejara a viagem por dois anos. Cataratas do Niágara. Leria muitos livros, treparia com estranhos, gozaria do livre arbítrio de não escolher.

Entrou dentro da embarcação turística que nem criança com boca aberta. Havia lendas sobre arco-íris, foi o que pensou. Em algum tempo atrás, quando eu ainda esquecia.

Como era bom perder a memória, como era relaxante não ter passado e contar os dias a partir do presente.

Ony-Akara era a única coisa de que lembrava em dois anos. Segundo Camus, um homem é sempre a presa de suas verdades. Uma vez reconhecidas, ele não saberia se desligar delas. Miranda tinha um plug nas verdades alheias. As delas ela enterrara em um campo de golf 2 verões atrás.

Dentro da embarcação, ela lembrou por 2 segundos, atrás de véus e quedas d’águas, de como ela fez uma oração fortemente quando viu um anjo se esconder atrás das nuvens. Ela não queria ser Fátima, muito menos sua irmã, pois ela morrera jovem e Miranda queria muito apagar mais de 20 velas.

Ver um anjo era assustador. Lembrar dele após 2 anos de memórias zero era aterrorizante. Em um minuto caem 450 milhões de litros de água. Ony-Akara. Em outro minuto, Miranda relembra todos os movimentos dolorosos do ontem adormecido. Ela cospe na água barulhenta.

O que é um cuspe no meio de águas que evaporam antes mesmo de chegar ao chão? Ela lembraria, mas forçaria a mente para poder apagar as memórias. Era seu segredo de Fátima. Quando a embarcação deu a volta e a água respingou em seu rosto, ela relembrou pela última vez como sua arma branca atacara um grupo com metralhadoras. Como ela parou as balas com o tilintar de uma tradição milenar.

Ao tirar o colete de salva-vidas e pisar em chão firme, Miranda sorriu para o arco-íris das Cataratas.

# Ony-Akara, ela disse. Obrigada. Ela não teria mais lembranças e estava aliviada por isso.



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