quarta-feira, janeiro 17, 2007

Ossos do ofício

Os meninos que usam tocas não precisam esquentar as orelhas. A menina-mulher da pele preta é sortuda. Suas rugas não serão pés de galinha. O velho que bebe muita água se exercita sempre indo ao banheiro. A senhora que sai com o guarda-chuva em tempos de sol sempre diz “Pega minha sombrinha aí!”

Eu caminho para o farol em busca de luz divina. Em busca de preenchimento cerebral e amor. Conto os sapos que caem no Nordeste. Eles voam, mas caem mortos. Eu escrevo como quem apanha chuva. Meu nome é Hanani e tenho um encontro com Bridget.

Bridget irá me promover, mas eu morrerei engasgado com uma barrinha de cereal do Carrefour. Sentirei minha afta estourar quando a glicose de milho se espalhar pela garganta. Também contemplarei o silêncio da casa e os porta-retratos dos colegas de trabalho. Terei um descontrole eufórico. Bridget comprará caixas e caixas de flocos de arroz para que o mecanismo ocorra novamente. Nada acontecerá, ela ainda terá que pagar as contas de luz. Ela continuará a não limpar a poeira dos cantos. Quando receber a notícia de minha morte, dirá: “Esse é o nosso mundo, o que é demais nunca é o bastante.”

Sempre parafraseando orações de outrem. Não irá ao enterro, mas mandará orquídeas. Enquanto pessoas jogarem terra sobre minha carne com formol, ela estará colocando roupa dentro da máquina.

Tudo bem, tudo bem, ela repetiria para si. Mas dentro de sua alma amedrontada, ela se seguraria nas paredes e gritaria. Seria chicoteada e chagas apareceriam em seus pulsos brancos.

Eu terei ido, mas o destino é sempre deixado para os que ficam. Ossos do ofício.



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