terça-feira, abril 17, 2007
Guilhotina
Carla Luisa havia cortado o dedo na resma de A4. Branca, espessa e fragmentadora de pele humana. O corte atingira a superfície da carne, jorrando sangue em 5 segundos.
O sinal de fax sumira e com ele a maciez da pigmentação branca de seu indicador. A folha de papel fizera um corte exato, angulado em diagonal.
Ela pensou na exatidão dos serial killers. Na movimentação dos cortes, o desfazer em camadas. Um deles havia exterminado 30 em uma universidade americana.
O que os difere de nós? Onde estava o limiar da razão e da compaixão? Qual a essência do instinto humano?
Ela pensava em sobrevivência. Seu chefe em poder. Os funcionários da microempresa em estabilidade. Mas todos estavam envolvidos pela morte. Singular e anêmica. Sedenta por cortes profundos. Voraz em sua sagacidade.
Carla Luisa estancou o sangue do dedo com a boca. O sinal de fax apitava positivo. Seu chefe estava esperando a nova remessa de notas fiscais com seus impostos. Ela esperaria no fim do mês seus dois reais por hora trabalhada.
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