quarta-feira, abril 25, 2007

Sorriso bobo

Isildinha ajeitara a gola da camisa pólo vermelha. Ela havia comprado uma calça preta nova para combinar com o símbolo das Americanas.

Véspera de Páscoa. Loja cheia.

O que Isildinha gostava em seu trabalho era a diversidade dos departamentos. Avós roubando balas às escondidas. Homens de paletó quebrando pedaços de chocolate. Mulheres afoitas escondendo brindes dos ovos entre os seios.

Tudo em prol da época de compaixão e confraternização.

Isildinha tinha um sorriso bobo. O sorriso da fartura. Ver a loja cheia a animava. Ela era movida pelo sentimento de calor humano.

Crianças corriam escadas rolantes acima. Idosos comiam pães de queijo frios com Cocas sem gás. O segurança da hora perseguia um grupo de estudantes.

Evilázia, sua colega de caixa, atendia o 20.931º cliente que repetia “O ovo está rachado.”

Muitos costumes ligados ao período pascal originam-se dos festivais pagãos de primavera. É a festa da Libertação.

Estamos no Outono. Calor no Rio de Janeiro. Gotas sudoríparas se espalhando intensamente pelos corpos que se amontoam nas filas. Ar condicionado não dá vazão.

“A Páscoa é doce. A Páscoa é amor” era o jingle desse ano. A sonoridade não saía dos ouvidos de Isildinha. Ela acompanhava o ritmo com a sola do pé esquerdo. Ela era uma cristã devota, não comia carne na Sexta-Feira Santa.

Sua agenda social estava cheia. Evilázia a convidara para um churrasco de domingo depois da igreja.

“A Páscoa é doce. A Páscoa é amor” invadia o ambiente. Isildinha sempre sorria para os clientes. Eles retribuíam quase sempre reclamando que a sacola rasgava.

# Dá para me dar mais uma?

Mais uma vez, Isildinha sorria. A loja estava faturando. O gerente estava feliz. Ela não ganharia ovinhos de Páscoa esse ano. Contenção de despesas. Isildinha sorria. Era o símbolo da fartura.



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