domingo, agosto 05, 2007

É o fim do rock'n'roll

Igualmente como a natureza, as sociedades humanas não conhecem saltos em sua evolução.

# Abaixa a cabeça – o menino de cabelos enrolados, alinhados em um corte de personagem de documentário de funk gritara - antes de ser atingido por um ovo podre.

# Continue com a cabeça abaixada, Cléa – ele repetia enquanto que o filhote morto da galinha caía em seu rosto, tatuado com - a frase “No multiculturalismo, nós confiamos”.

A memória e o espaço urbano, os impactos da modernização avançada na cidade do Rio de Janeiro: ovos podres nas pessoas.

# Eu também te amo, querida Cléa – uma voz de cima gritava enquanto ovos pintados caíam do céu, coloridos e fedentinos como toda carne morta, como toda esquina carioca, como todo o Brasil tolerante que grita por um mundo de paz. Ao som de Wedding Bell Blues, the best of Laura Nyro, os meninos homens gargalhavam enquanto que o menino de cabelos enrolados tentava proteger Cléa.

# Você pode correr, mas não pode se esconder – outra voz gargalhava.

Não houve estupro, não houve contato físico, não houve agressão verbal. Amor não é comunicação? O que é comunicação a não ser uma troca de mensagens entre emissor e receptor?

A oitava maravilha do mundo sorria, irônica, no alto de seu monumento com escadas rolantes. As imagens e suas perspectivas.

# Me ajude a ir para baixo, José – sussurrava Cléa.

# Você não quer subir para cima? – gargalhava outra voz.

O casal corria apressado entre a calçada, com medo de pisar em ovos.

# É o fim do rock’n’roll – alguém gritava.

José e Cléa se lavaram na parte imunda da Urca, onde resíduos defecados por outros humanos boiavam tranquilamente pela Baía. Dentro de suas cabeças, a pergunta que pipocava era:

“O Rio de Janeiro é uma grande favela com Copacabana para os turistas, Ipanema para os hypes e a Barra da Tijuca para os emergentes?”

# É o fim do rock’n’roll – alguém gritava.



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