domingo, setembro 09, 2007
O último Faniboni
Ramon Faniboni leu em um outdoor estratégico: “Use a alma pelo lado de fora *CONVERSE”. Até a marca de seu tênis dava-lhe sinais.
O menino de 19 anos logo se transformaria em homem, quando os feitiços da cidade metropolitana caíssem em seu rosto, transformando as rugas de expressão em preocupação.
Mas só por hoje, ele queria ter a alma pelo lado de fora. Fazer cair cada moedinha de pele, tirar todos os fiapos de pensamentos, sacudir a toalha mental e deixar ao sol o descendente Faniboni.
Em troca, São Pedro mandou uma chuva de primavera. As gotas limparam as janelas do ônibus e ele viu a lagoa. Imunda, fétida, viva, humana.
Era a beleza assimétrica.
Ramon Faniboni queria liberdade, mas só ganhou solidão. E enquanto o ônibus atravessava a avenida e a lagoa cuspia lesmas, ele deixou-se levar pelas circunstâncias. Deixou-se ir até o ponto final, descer e ver que a tolerância acrítica parecia cópia de mangá brasileiro.
O cheiro podre ainda subia-lhe as narinas. Ramon Faniboni gritou bem alto. O ônibus já tinha saído. Ele gritou mais alto, jogado no paralelepípedo. Viu a batata de sua perna se desprender de seu corpo. Sentiu-se culpado, esvaziado, com a alma usada pelo lado de dentro, um pedaço de mediocridade.
Ao longe, um pitbull levava a sua batata para a lagoa suja.
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