quinta-feira, janeiro 03, 2008
A abelha que morava na concha
Nina acordava sempre às 9h32min. Acordava suada,em prantos pelo suor, em uma imensidão de calor insuportável. Era sempre verão dentro da concha.
E morar 24h dentro de um local quente proporcionava uma visão única do mundo. As gotas sudoríparas não fedem, o que proporciona mal cheiro são 1. os pêlos ou 2. as partículas que protegem a pele ou 3. as bactérias que se instalam na película e dormem agasalhadas com a umidade do ser.
Viver no calor requer sabedoria milenar. Sabedoria sim porque é necessário ter paciência, paciência para suportar não a dor, mas o derretimento. Zelo para tomar conta de seu corpo, cautela para agüentar o suor e calma para distinguir as etapas da quentura.
Você passa a amar o vento, mesmo que seja um sopro quente vindo do Pacífico. Você passa a agradecer pela sombra, mesmo que seja de um pé de romã. Você acredita no ditado de que a chuva refresca a alma.
Nina dormia todos os dias às 21h33min. Nos sonhos passava a madrugada a trabalhar em favor da noite. A abelha notívaga era defensora do frio e odiada pelas cigarras.
E quase sempre quando o calor chegava a um estágio de alucinação, ela se ajoelhava e olhava para o céu, implorando pela volta das estações do ano. E quase sempre o que recebia em troca era uma única gota de suor um pouco mais doce.
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