terça-feira, fevereiro 19, 2008
O motoboy sem capacete
João Marcelo era um jornalista de bairro. Havia feito Ciências Agrárias, mas tinha um conhecido que conhecia o editor-chefe. Nas horas de trabalho, mastigava formigas. Não as engolia, só gostava de ter a sensação na língua. Ele era alérgico a pimentas, mas fanático por ardências.
Aconteceu rápido demais em uma tarde de domingo. Dia nublado, mas abafado. Estava cobrindo uma matéria sobre poluição urbana. Ele degustava seus aperitivos quando um motoboy sem capacete fingiu jogar a moto em cima dele. João Marcelo se engasgou e teve convulsões esporádicas. As formigas desceram garganta abaixo, alinhadas como em penitência. Foi capa do periódico local. Enquanto a agonia do sufocamento percorria seu corpo, ele só se lembrava do atraso do IPVA. Ele sempre fora correto quando vivo, mas desleixado morto? Quem ficaria com seu carro? Quem mudaria a posição do banco? O novo dono deixaria o cão da rua urinar em seus pneus?
Foi salvo por uma ex-garota de programa evangélica que passava no local. Ela enfiou o salto fino na garganta, de forma certeira a fazê-lo respirar. O jornal informou que as formigas ainda chegaram ao hospital vivas.
João Marcelo recuperou-se rápido. Agora ele senta, antes de começar o trabalho, no degrau da escada do jornal e coloca rapé nas narinas para espirrar. Recebeu durante 3 meses um abono de 2% pela popularidade momentânea.
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