quinta-feira, julho 24, 2008

Os morimbundos

Ela passou a mão na madeira 40 vezes. Arrumou a mesa e separou as peças pretas e brancas. Girou-as pelos dedos sete vezes e o mundo movimentou-se em pontinhos. Ninguém percebeu quando das linhas da mão sombras brotaram e bolhas de ar contornaram o dominó. Distante dali, em um caminho que ia para baixo de uma ponte, Cristiania fervia com quartos de suruba. Fazia tempo que ela não via o sorriso do sol caminhando por entre os corpos que jogavam gamão. Corpos são tamanhos em erupção, ela dizia. Fervilham, explodem e adormecem. Pingam e derretem. Com as mãos fervilhadas, partiu a madeira e do centro retirou uma máscara. Levitou-a e após fazê-la rodopiar, retirou toda a roupa, arrancou fio por fio e separou sete peças de dominó. O primeiro jogador chegava pela esquerda. Quando ele sentou, ela comeu sua cabeça, pois ele tinha uma pinta na parte do cotovelo esquerdo. Retirou uma peça da mesa. A fila indiana de corpos subia a perder de vista. O dominó, trêmulo, só tinha 48 peças.



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