sexta-feira, setembro 12, 2008

A primeira vez.

Ela estava suspensa no cômodo da cozinha. O sangue subia à cabeça, latejando como corte de navalha. Como se abrisse lentamente a pele e de dentro, um Mar Vermelho explodisse. Pensou nas vezes que choramingava com cortes de resmas de papel ou quando batia a cabeça na ponta da janela. A dor física chegava adormecer a pele. Os furinhos, bem os furinhos, metricamente arredondados. Onde o ar entrava e saía como sopros em canudos de plástico. Tentou esticar o braço para tocar a mesa.

Doía.

Não entendeu quando seus olhos umedeceram. Reações biológicas, pensou.
Tentou abri-los mais. Compenetrou-se. Levou à mão ao pescoço.

Seu físico tremia como se levasse pequenos choques. Descargas elétricas cerebrais, pensou.

Quando achou que o pior tinha passado, as protuberâncias explodiram em sua gengiva. Finas, afiadas, delicadas, presas que lembravam a garganta de um tigre. Pensou que tinha morrido, mas o sangue insistia em mostrar a eternidade e seu gosto. Caçaria à noite e moraria no frio.

Ironicamente, enquanto seu corpo se acostumava pela primeira vez a ter necessidade sanguínea, seus olhos lacrimejaram quando ela conseguiu tocar a mesa. Os alhos foram amassados com a ponta dos dedos.



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