domingo, maio 16, 2010
O desejo de Natal
Veio a manhã para a mulher de pés azuis. Tocou as veias e encheu o pulmão. Ela estava presa por um cordão de notas coloridas que flutuavam pelas paredes mofadas. Ir para o mundo selvagem ou acobertar-se nos tijolos? Havia um céu de cinquenta e nove luas que de tão estampadas pareciam coxinhas de galinha. A mulher de pés azuis queria sentir a gordura e o escorregar entre os dedos, mas estava tudo tão longe e perto, embaralhados pelo que as pessoas chamam de vida urbana. Como rasgar as notas? Como afugentar as vespas cintilantes?
A sua cabeça enchia como espumas de cerveja. Os fios de cabelo levantavam-se como farol alto. Os pés azuis sentiam o piso, apesar de desejarem o azulejo. Por mais que os anos passassem, era tudo igual ao verão de dezessete primaveras. Ela ainda se via como no reflexo do espelho. Mas de tão comprido que estava seu cabelo, ele vivia se conectando com o azul dos pés. E quando eles se tocavam, ela derramava lágrimas de purpurina. Doíam para sair, mas eram brilhantes.
Joana Bazzi Verly Lemec parecia ter sangue nobre, mas gostava mesmo era de enfiar dedinhos nas orelhas de aves congeladas. Alguém tinha lhe concedido um desejo de Natal.
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