quarta-feira, junho 23, 2010

Ligamento cruzado posterior

Quando os pensamentos marrons invadiram a caixa cerebral de Martin, ele estava lendo um gibi traduzido. Não acontecia muita coisa na narrativa e as ilustrações eram medíocres. Nem ele sabia o porquê de ter escolhido aquela edição. Talvez fosse efeito das letras, já que Martin colecionava tipografias.

Às vezes ele ficava horas alisando as palavras impressas. Às vezes conversava com as vírgulas e duvidava do poder do ponto. Às vezes cantarolava-as como se melodia fosse fácil de sair da boca que nem sílaba oxítona.

Quando os pensamentos marrons invadiram a caixa cerebral de Martin, ele também estava coçando o joelho. Porque o joelho era seu lugar preferido. Com ele, podia dobrar-se. Podia articular-se.

E era do joelho que ele tirava água de pensamento, como quem tira goteira de lâmpada. Às vezes os pelinhos encravavam, às vezes a pele engrossava. Mas toda vez que ele colocava os dedos quentes sobre a rótula, uma coisinha de cor saía da tíbia. O que conectava seu fêmur também caía sobre o chão. E alguém pisava ou alguém coletava. Mas sempre, como se sempre fosse um tempo em reticências, ele sentia uma pancadinha perto de menisco e sua perna levantava automática.

Continuamente, ele achava engraçado.



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