segunda-feira, junho 21, 2010

Ribeiro

Era um chão de terra daqueles secos. Sem sinal de pluviosidade. O mato era ferrugem, sem formigas. Giordana Naville beijou o solo. Sua saliva misturou-se com o terreno e ela mastigou como se pudesse alimentar-se.

Da terra surgiu e da terra ela iria embora. Mas não nos dias longos sem sol. Não nos dias onde a lua tinha menos dentes que outrora.

As mãos eram as mesmas. Os olhos ainda piscavam. Mas o coração havia sido arrancado. Uns dizem que havia sido picotado com faca Tramontina. Outros que ele havia sido degustado em banquete histórico.

Se eu tivesse um coração, ela pensava, poderia comê-lo.

Mas há tempos que ela não ouvia batidas, só toques opacos. Alguém ao longe, caminhou. Ribeiro trazia cabelos. Queria presenteá-la com bulbos. Com unhas. Com pelos encravados. Respirava ar quente úmido de quem tem os pés de Peixes.

Ela farejou primeiro os pelos. Depois as unhas. Os cabelos tinham uma fragrância de sangue. Seco. Denso. Grosso. Provavelmente arrancados a menos de uma hora.

O coração palpitava. Uma vez forte. Outra vez fortíssimo. Giordana tinha nos ouvidos uma intensidade de soprano. Um tempo parado. Um pensamento torto incontrolável.

Ainda havia terra em sua boca quando ela levantou a cabeça e mirou o imo de Ribeiro. Dizem que ataques violentos não necessitam de piscadas. Que o cérebro consegue controlar cada pedaço do corpo que se move.

Ribeiro só sentiu quando a veia rompeu-se. Ele tinha acabado de engolir sua própria saliva, pois estar perto dela secava a garganta. Ele piscou e dizem que viu seu coração ser engolido de uma vez só. Aí ele caiu e da gengiva dela caninos cresceram bem devagar até todo o sangue ser drenado.

Giordana Naville. 23 anos. Vampira.



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