quinta-feira, setembro 23, 2010
O homem encantado
Ele era um homem com turbante azul e uma face severa. Dessas que se fecham quando se olha mais profundamente. Tinha um risco perto da sobrancelha falhada. Não sabia de onde vinha a marca. Uns dizem que sua memória havia sido arrancada por militares, outros que ele fingia esquecer para ter um ar de mistério em volta de seu passado. Ensinou algumas técnicas de controle de charme pessoal para uns. E de esnobice para outros. O que todos sabiam era que era um homem encantado. Desses que parecem flutuar quando passam pela calçada. Desses que não fumam, mas estão sempre com um cigarro por perto. As pessoas se aglomeravam perto dele. Não o tipo de multidão sufocante, mas um tipo de reunião de arte em prol da sedução do mundo. As pessoas ficavam mais bonitas, mais cinematográficas, mais musicais. Uns chegavam a dizer que era poder de demônios, outros de que ele havia morado muito tempo nos Bálcãs e que de lá trouxe sabedoria primitiva.
Ele era um homem com turbante azul e uma face severa. Quando perguntavam de onde ele era, ele sempre dizia: 'Sou do mundo.' Teve gente que até fez música com isso. Depois ele desapareceu por um tempo como quem pega sapato errado por engano. Quando voltou as pessoas não o reconheceram. Não tinha mais turbante nem cara severa. Tinha dois olhos azuis berrantes que piscavam em câmera lenta toda vez que alguém dizia Oi. O mundo enlouqueceu gozando sua figura. Ele era um homem encantado, não havia dúvida.
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