quarta-feira, junho 27, 2007
No calor de Itatiaia
O que mais irritava Jacqueline da Silva Souza era o puxasaquismo de seus colegas de trabalho. Muitos deles negavam que estavam comprando apartamentos na estrada do Medanha porque os chefes menosprezavam o bairro mais longe do mundo. Para os chefes o bairro era o local que tinha a agência de carros mais barata do Rio. Para os funcionários 30 anos de pagamento à Caixa.
Jacqueline da Silva Sousa digitava rapidamente as planilhas de Excel, pensando no horário de saída. Pensando se todas as carreiras findariam como os filmes de sessão da tarde, tão repletas de sedentarismo aos 40, tão medíocres a ponto de negarmos como realmente somos.
Muitas a chamaram de louca, mas ela nunca mais voltou à empresa e foi vender pastéis de forno em Itatiaia.
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sexta-feira, junho 22, 2007
Lá no pé da serra tinha, tinha lá no pé da serra
Porque no mundo só há dois fatos, pensou Anahí: o amor e o erro humano.
E os dois terminam na mesma cachoeira de macumba lá do pé da serra: jogados e esquecidos.
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quinta-feira, junho 14, 2007
A Ministra mandou dizer...
Luig fez o que a Ministra do Turismo mandou, relaxou e gozou. Mas o gozo foi tão intenso que o menino teve espasmos com a bucha vegetal envelhecida e teve que ir para o pronto socorro do bairro adjacente. Quando ele chegou lá tocava Heal the world, do Michael Jackson. Teve seu orgulho e seu relaxamento interrompido quando o astro repetia Make it a better place for you and for me and the entire human race.
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segunda-feira, junho 11, 2007
O sorriso de Sumiko
Sumiko adora passar o dedo na manteiga e depois lambê-lo e ajeitar a manteiga formando uma capa lisinha como se ninguém tivesse tocado em nada.
Ela sorri, dá dois segundos e vinte passos apressadinhos, levando o pote para os hóspedes do Yoe, famoso hotel da Orla Marítima. Seu prazer oral amplia quando ela recebe de volta mais sorrisos recheados de lambidela e gordura.
Eles pagam R$ 567 reais pelo café da manhã, ela tem a alma de graça.
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terça-feira, junho 05, 2007
A dor do ser humano
Cristóvão abre a janela, molhada pelos 9 graus Celsius. Passa o dedo lentamente na vidraça e desenha um coração.
Não sei porquê o coração foi votado para representar a dor do ser humano. Poderia ser o rim, o intestino, ou até mesmo a orelha. Qualquer um sobrevive se cortarem orelhas. Artistas fazem isso o tempo todo.
Cristóvão quer conhecer os mistérios do mundo. Ele coloca sua orelha no vidro gelado e delicadamente escuta os batimentos cardíacos das coisas. Palpitantes são suas condições. Ele ainda sonha com sua outra metade, estraçalhada por um trem chamado vida que passa. Mas ele sorri, pois a melancolia nada mais é do que nossa felicidade congelada em momentos de trailler de cinema.
Cristóvão sai da janela e vai dormir, enrolado em seu edredom solitário. É o mistério da vida que o circunda, perplexo como qualquer acontecimento que temos notícia, mas não sabemos explicar. Como o desaparecimento dos Maias na Guatemala ou porque chupa-cabras só foram aparecer em Minas.
Ele encosta a cabeça no travesseiro fofo e sonha, acreditando que após seu décimo terceiro encontrará seu grande amor e ela terá para sempre pernas depiladas.
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