sábado, novembro 28, 2009
Dica para um twitter educacional
PROFESSOR: "O que você tá fazendo com esse olho gordo?"
ALUNO: "Que isso, professor!! Eu nem tô fazendo nada. A prova dele é A, a minha é B." PROFESSOR: "Então como você sabe isso?"
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terça-feira, novembro 17, 2009
A vida de Anna Li
Anna Li tinha os cabelos esvoaçantes. Desses que poderiam ser aproveitados por comercial de shampoo. O único problema é que eles voavam só para o lado direito, como um grande cone em direção ao céu. Era bonitinho que só se você fosse fotógrafo surrealista. Para uma vida comum, ele não era nada prático.
Certa vez cogitou atravessar a vida dentro de uma moldura. Talvez fosse válido passar por sua humanidade segurando um passarinho na mão esquerda, em cima de nuvens quase transparentes photoshopadas e seus cabelos pelo espaço. Entediou-se. Da outra vez, tentou colocar sua existência dentro de um calendário todo azul com letras brancas. Aguentou cinco dias apenas, depois rasgou os anos.
Anna Li não se importava em ter nascido assim. Nunca tinha torcicolos nem problemas com palidez. Cabelos pesavam e suas bochechas sempre estavam rosadas. Mas eles eram soltos demais, macios demais, sedosos que nem filmes de comédia romântica. Felicidade assim enjoava.
Podia ter cortado as madeixas, mas não conseguia. Era seu ganha pão. Todavia, durante o mês de janeiro de cada ano que passa ela faz tererê para que eles se quebrem e fiquem duros.
Dura um mês. Depois volta tudo novamente.
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domingo, novembro 08, 2009
Os defixadores
Gibran, Suy, Naui e Pacha corriam soltos pelas ruas de Maputo. Todos conheciam a senhora Yris Wan. Todos imploravam por canetas no aereporto local. Pacha era a mais fervorosa.
Eles eram uma família de contadores. E contadores na África tinham certas vantagens. Em dias santos, por exemplo, podiam inventar. Inventavam governos, anedotas, números. Mas o que Pacha adorava era inventar decalques de pele humana. Eles vinham em papel de pão, com barbantes crus e destinados a pessoas que não podiam se fixar. Havia naquela época, em toda parte do mundo, indivíduos que não podiam fixar em nada. Era como se fossem pólos não opostos de ímãs. Para essas pessoas, os decalques eram bem úteis.
Pacha adorava ver aquela aversão. Os corpos muitas vezes eram jogados para longe, caso tentassem se fixar, segurar. O toque mais longo já registrado durara dois segundos. Todavia, seu dono fora arremessado para tão distante que dizem que até hoje ainda se ouve o eco além mar. Os defixadores, como eram denominados, sonhavam. Sonhavam com abraços, luta corpo a corpo, sexo, comida com as mãos.
Pacha embrulhou cuidadosamente seu pacote. Era um decalque extra grande. Trazia um tipo de pele seca, mas muito bem hidratada com óleos e essências. Talvez durasse mais que dois segundos. Talvez não. Ela precisava de uma caneta. Enquanto seus irmãos abordavam turistas e estrangeiros, Pacha deu a volta pelo aeroporto com o embrulho debaixo do braço e roubou uma caneta de um guarda distraído. Se fosse pega, a senhora Yris Wan teria que levar a menina para o Machu Piccu e consequentemente nunca mais pisaria em terras do continente africano. Ela presenteara Pacha com uma raquete que matava mosquitos, então a menina não queria que isso acontecesse.
A pequena contadora escondeu seu objeto de escrita entre as pernas e correu. Às vezes, pinicava. Encontrou um defixador cabisbaixo logo atrás do mercado que vendia um tipo de carne não identificável. Ele a olhou com grandes olhos negros e brilhantes. Ela sorriu. Retirou de suas axilas suadas o pacote com sua marca de transpiração.
# O seu sonho, ela disse.
Ele pegou o embrulho, trêmulo. Rasgou o papel e arrebentou o barbante ligeiramente. O decalque adentrou em sua constituição física e ele ficou ali, tocando o resto de carne que o vendedor anteriormente jogara para os cães. Pacha retirou a caneta do meio das pernas e desenhou seu nariz na palma da mão.
Contou 5. 6. 7 segundos. O homem ascendeu como um foguete americano. Ninguém sabe se explodiu ou se continua a subir. Pacha tem certeza. Como diria Sandman, ‘Sonhos moldam o mundo.’
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